Modelos são modelos, desenhos são desenhos … os outros são os outros e tal!
por Fabiane Wolff
Disclaimer importante para o leitor deste texto: eu adorei o livro do Tim Brown!! Uso muito. Mas uso conforme a bula prescreve, sem inventar dosagens ou novos usos (inexistentes) para ele.
Continuando o papo que começamos aqui sobre modelos, frameworks e esboços… eu prometi para minha turma de doutorandos e mestrandos comentar sobre o double diamond. Eles chamaram a figura de modelo. Eu devo ter ficado pálida, ou feito cara feia…pela telinha do Teams eles olharam sérios: o que foi, profe?
Risadas a parte, e considerando que quem estava comigo era uma turma de pós graduandos, pesquisadores, acadêmicos…eu respondi: o double diamond é super legal, mas não é um modelo. É simplesmente a representação gráfica do pensamento do autor. Sim, modelos são representações…mas o que eles (alunos) estavam imprimindo ali era a condição do double diamond como um solucionador de problemas, método de ação, ou de projeto. E as coisas não são assim.
Home office tem suas vantagens, foi só levantar, pegar o livro e ler em voz alta o trecho do texto que antecede a figura, em tradução minha:
"Pensamento convergente é um modo prático de decidir entre alternativas existentes. O que o pensamento convergente não é bom em, entretanto, é em explorar o futuro e em criar novas possibilidades. Pense em um funil, onde a entrada maior (larga) representa um amplo conjunto de possibilidades iniciais e o bico menor representa a estreita solução convergente."
"Então, o que temos?" perguntei para a turma.
Temos uma representação gráfica de um pensamento, de uma ideia, de uma solução. E é ótimo!! E nos ajuda muito, fazendo clara a ideia do autor. Não há nenhuma dúvida de que a ideia de selecionar possibilidades de projeto em forma de diamante duplo é válida e é útil. Mas é isso, UMA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA IDEIA DO AUTOR. Não um modelo teórico e muito menos a fórmula mágica para solução de problemas complexos nas mais diversas áreas de conhecimento. O sucesso do uso desta ideia depende completamente dos conhecimentos e capacidades técnicas de quem a aplica.
Peço desculpas pelo balde de água fria com cubinhos de gelo, pessoal! É a vida…
Importante também lembrar a origem deste desenho. Ele nasceu lá por volta de 2009, quando não se falava muito em método ágeis no design, os projetos tinham seu desenvolvimento pautado por estruturas mais rígidas. As coisas funcionavam de modo diferente. E ele foi, sim, disruptivo.
Com o passar dos anos, o desenho, do mesmo modo que aconteceu com a Design Ladder, foi incorporado aos estudos acadêmicos e as práticas. Seu uso é obviamente válido e interessante. O, agora sim, modelo, ficou mais robusto e em algumas de suas versões traz passos de desenvolvimento e estruturas de processos.
Mas, sabem como é, não custa colocar cada coisa em seu lugar. Antes que eu pudesse concluir a aula, aos 48"do segundo tempo, um aluno comentou:
"É que o design ainda é algo novo, não é mesmo?!"
Desmaiei, volto no próximo texto para falar sobre o quão novo design não é e porque este discurso nos prejudica imensamente.
E eu perdoei, pois isso me abastece de ideias para tratarmos aqui! E, enfim, ele é mestrando. E mestrandos ficam assim, em estado de glória e pânico por dois anos, até se formarem lúcidos novamente.
*** qualquer semelhança com a realidade é mera ficção….****